Nós que trabalhamos na área da educação sempre aprendemos que os projetos escolares devem suprir uma necessidade e curiosidade do nosso grupo de crianças, que façam parte de um contexto comum a eles, que seja significativo.
Pensando nisso, fiquei imaginando quantos bairros estão passando por esse problema que assola todo o Brasil nesse momento.
Quantos e quantos pais de família ficaram, ou estão angustiados por verem seu filho ou eles mesmos, com DENGUE, CHIKUNGUNYA ou ZIKA.
Então, quer um assunto mais atual do que esse?
Algumas observações muito importantes
Meus amigos, gostaria de dizer que essa ideia de projeto é para ser adaptada de acordo com a necessidade de cada região e de cada grupo de crianças.
Por quê?
Como já disse acima, nós educadores sempre aprendemos que devemos ter um olhar especial sobre a real necessidade das crianças. Então, que sentido tem pegar um trabalho pronto e simplesmente reproduzi-lo para o grupo? Quais particularidades detectei que meu grupo de crianças precisa e que estou contemplando num projeto genérico?
Não acho que o resultado dele será algo realmente significativo e importante para o grupo. Me desculpe por favor se alguém pensa diferente. Essa é minha avaliação baseada em tudo que vi aprendi na minha jornada pedagógica.
Acabei de postar uma matéria sobre o filme COMO ESTRELAS NA TERRA. Clique aqui..
Em um trecho, mostra um grupo de professores que já se acostumaram tanto ao modo como lecionam, que não estão dispostos (pelo menos num primeiro momento) a mudar. Acreditam naquela "fórmula" já usada e acham que as crianças é que devem se amoldar a ela e não o contrário. Por isso o garotinho do filme sofre tanto.
Depois de assistir e refletir num filme desses, como voltamos para a sala de aula? Repetindo exatamente as mesmas atividades? Não mudamos nada em nosso modo de olhar a criança e avaliar as necessidades deles?
De que adiantou então achar o filme lindo?
De que adianta compartilhar nas redes sociais tantas postagens sobre esse entendimento do que é ser professor e do que é ser criança, se não refletirmos nas nossas próprias práticas e atitudes?
Nosso maravilhoso Referencial Curricular que foi disponibilizado em 1998 (olha quanto tempo!) já nos apontava para esses novos olhares de cuidar e educar nossas crianças que não devem ser os mesmos de quando as creches eram cuidadas pela Secretaria da Assistência Social.
Mas em muitos lugares ainda percebemos a mesma sequência de ideias que eram usadas muito antes de se entender quais eram as reais necessidades de nossos pequenos.
Sim, nós trabalhamos com crianças, que tem necessidades especificas, e não com mini-adultos. E nós cuidamos E educamos. Não é apenas um ou outro.
Temos novos livros também importantíssimos lançados depois do Referencial que servem de norte para nosso trabalho. Mas para quem não conhece ou quer te-los na forma digital, deixo aqui o link do MEC para baixar.
Por isso, só pra reforçar, vou deixar aqui uma sugestão de linha de trabalho, e não um modelo pronto.
Cada professor vai adaptá-lo e deixar com a "cara de seu grupo", isso é claro, se esse projeto for realmente uma necessidade na localidade onde mora. Senão, aconselho que não o use apenas porque é um assunto muito comentado no momento.
Aproveite o período de adaptação que esta começando. Esse é o momento onde os professores estão conhecendo seu grupo, suas particularidades. É nesse momento que perceberão os temas que podem ser de interesse para eles. As crianças nos apontam o caminho.
É a partir daí que nasce uma ideia de tema e podemos começar a rabisca-lo.
Eu particularmente gosto muito de projetos anuais, mas isso é questão de escolha e necessidade de cada escola.
Também acho importante que eles comecem por volta de março ou abril porque os professores já conseguiram conhecer melhor seu grupo e suas características especificas. Afinal de contas, não é pra isso que montamos um projeto?
Se já chego com um projeto pronto, como eu consigo garantir que ele vai suprir a necessidade de um grupo que nem conheço?
A importância de um projeto contextualizado
Uma vez, realizei um projeto com minha turma sobre os malefícios do fumo. Percebi que muitos pais da minha turma de crianças fumavam.
Um dia, em uma reunião de pais, eles me perguntaram se eu estava abordando esse assunto com as crianças. Nessa época, eu ainda não tinha percebido a importância de fazer uma ligação dos temas dos projetos das crianças com as reuniões de pais, então meus assuntos eram aqueles que vocês viram nessa matéria. (Clique aqui) (RS)
Quando disse aos pais, que sim, estávamos falando sobre esse tema, as falas deles me comoveram:
- "Meu filho não pode me ver pegando um cigarro. Ele já tira da minha mão e não me deixa fumar".
- "Estou parando de fumar porque meu filho pediu. Estou fazendo isso por ele".
E tantas outras falas......
Quando paro pra pensar nesse projeto, avalio que apesar de ter tido um bom efeito, eu faria muitas coisas diferentes. Apesar de sempre querer fazer o melhor trabalho com meus pequenos, ainda usava muitas atividades estereotipadas. Poderia ter sido muito melhor. Eu ainda não entendia que as crianças aprendem de formas especificas e que tem atividades que são muito mais significativas e que ajudam a criança a se desenvolver muito melhor do que outras.
Por isso eu digo a você: Faça o melhor e pesquise sobre o melhor. Não saia simplesmente pegando tudo que aparece na internet. Seja seletivo. Quando escolher um tipo de atividade na internet pergunte-se: Ela é REALMENTE adequada ao meu grupo e a idade das minhas crianças? Por quê? Como as crianças entendem o mundo nessa fase da vida em que estão? A fase de desenvolvimento que estão pede esse tipo de atividade?
Construindo um projeto sobre o mosquito Aedes Aegypti

Ler e pesquisar muito e muito sobre o tema. Separe todas as matérias jornalísticas que puder. Assista vídeos na internet sobre o tema. Pegue matérias cientificas que explicam sobre o mosquito e as doenças transmitidas por ele. Claro que durante o projeto o conhecimento será construído junto com as crianças e não apenas passado para elas. Mas o professor deve ter informações na mente para complementar ou corrigir informações equivocadas que as crianças tenham.
O portal do MEC está com uma forte campanha sobre o mosquito nesse momento. Bom material para usar nas aulas.
Comece a separar matérias e videos que podem ser passados para as crianças durante o projeto e outras que podem ser passadas para os pais nas reuniões. Essa mesma matéria pode te ajudar.
Envolva os pais e a comunidade
Faça um levantamento do conhecimento prévio das crianças sobre o assunto.
No planejamento do projeto, separe-o por etapas e pense em atividades que podem ser realizadas em cada uma delas. Assim o trabalho se torna muito mais fácil de aplicar e de acompanhar os avanços.
Faça ações com as crianças que elas possam replicar em casa. Por exemplo: Em uma (ou em algumas) das atividades os professores constroem o conhecimento de que todos devem passar pelos espaços de casa e verificar onde pode ter acumulo de água. Para fazer isso na pratica, o professor leva as crianças para dar um passeio pelo parque da escola ou pelo entorno do bairro. As crianças vão apontando os pontos que acham que são focos e os professor vai fazendo o direcionamento correto e as intervenções em cada caso. Com uma aula prática, as crianças replicarão isso em casa.

Um exemplo é a casca de laranja. Alguns sites mostram que ela pode ser colocada na tomada no lugar dos refis que compramos. Veja essa matéria. Veja essa matéria do programa de consumo social.
Laranja é algo de fácil aquisição. E esse teste todos podem fazer em casa.
Aqui também vale o estudo prévio que o professor fez. As estrategias usadas podem variar bastante. Se um bairro é muito precário, as abordagens podem ser diferentes de um bairro que tem uma infraestrutura melhor.
Vocês acham que, como as crianças participaram do processo e entendimento, eles falarão disso pra os pais e parentes e mostrarão o folheto confeccionado por eles mesmos? A probabilidade é muito grande. Muito maior se simplesmente entregarmos um desenho do mosquito pego na internet e entregar para que pintem.
Já pense também num produto final super interessante, onde realmente mostre que o projeto fez a diferença. Que mostre que houve envolvimento de crianças, pais e comunidade. Para isso também não esqueça de registrar com muitas fotos. Assim você consegue fazer um antes e depois. Também escreva no caderno de registro diário as etapas, os avanços e as dificuldades. Esse material será muito importante na avaliação final do projeto.
Modelo de etapas para que visualizem melhor todas essas dicas
De abril à outubro
Aplicação: duas vezes na semana
Atividades por mês: 8 em média
Etapa 1 - abril - conhecendo o mosquito e as doenças
Atividades: leitura de livros, pesquisa de matérias na internet, outros. Preparar cantinhos que possam levar as crianças a brincar e "mostrar" como estão entendendo o assunto.
Etapa 2 - maio e junho - levantamento de ações necessárias no bairro
Atividades: leitura de livros e pesquisas na internet para ideias de soluções. Pesquisa de campo com as crianças e envolvimento dos familiares. Preparar cantinhos que possam levar as crianças a brincar e "mostrar" como estão entendendo o assunto.
Etapa 3 - julho e agosto - Colocando em prática os levantamentos
Atividades: Preparar maneiras de levar o que aprenderam para seu cotidiano através de pequenas filmagens, folders, e outros materiais separados e preparados pela turma.
Etapa 4 - setembro e outubro - Confecção do produto final.
Também pode ser direcionado para apenas uma das doenças se for avaliado que no bairro a necessidade maior é essa.
São tantas ideias, tantas formas diferentes de direcionar esse projeto, que se fosse tentar escrever todas as que me vem à mente, esse post ficaria extremante grande.
Então vou deixar apenas essa.
Claro que ela ainda envolve muitos detalhes. Mas ele deve ter esse esqueleto para termos em mente por onde podemos seguir. Mas também deve ser reavaliado e direcionado de acordo com os conhecimentos que o grupo vai adquirindo.
Espero que tenham gostado.
E se fizerem um projeto sobre esse tema, compartilhe as ideias. Ficarei muito feliz de trocar conhecimento com os companheiros de trabalho e ter novas ideias.
Abraços a todos.
Lu Fernandes Pedagoga
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